terça-feira, 4 de agosto de 2020

Arte e Beligerância



"O que eu sonho é uma arte de equilíbrio, de pureza e serenidade, desprovida de assuntos perturbadores ou deprimentes - uma influência repousante e calmante sobre a mente, como uma boa poltrona que relaxa o cansaço físico". - Henri Matisse


Pessoas são insistentes e incansáveis nos mais variados propósitos. Para atingir suas finalidades  utilizam todas expressões do seu conhecimento e atividades humanas.
Inclusive a arte.
Quando esta insistência é semeada em campos jovens e férteis os resultados diversificam. Muitas vezes resultam em beligerância.


Jovens mentes moldam-se com facilidade, e são indubitavelmente atraídas para as atitudes mais combativas. Faz parte da natureza dos jovens cervos experimentar a força das galhadas antes de atingir a maturidade.
Quando neste contexto arte é uma faca de dois gumes. Pode aguçar mentes ou embrutecer.


Será que um dia atingiremos o estágio de desprendimento onde cada mister terá valor por si, e não como instrumento para realização de  projetos cujo cunho é pessoal?
Quando a arte será somente arte na sua expressão mais pura e simples, e não um punhal para determinar qual convicção prevalece?
Um instrumento corrompido usando formas, cores e traços para mensagens diretas e subliminares que objetivam o convencimento, não o encantamento.
Somos potes vaidosos a nos derramarmos, em saturação, repletos de convicções que tentamos impor ao nosso igual.
Será esta uma  ambição inata da espécie? A tentativa de moldar o outro, como barro, a sua semelhança.
Quantos deuses existem na nossa frágil condição de humanos.


Em que tempo o homem olhará para seu semelhante e verá apenas outro homem, não bandeiras, delimitações geográficas, invólucros físicos, ancestralidades, quantidade de bens, crenças espirituais, dívidas cármicas, e outras analogias do seu contexto de vida?
Será o homem  um ser irremediavelmente destinado a procurar o domínio sobre o seu próximo, como se dele dependesse a felicidade, o êxtase supremo?
Somos infinitamente iguais e diversos na mesma intensidade.
Um gato continuará sendo um gato não importa se "persa" ou "birmanês". Pode ser mais agradável aos olhos de um e menos ao de outro, mas sempre um gato, e como tal deverá ser considerado.
Shakespeare foi sábio e elegante nas palavras referentes a uma rosa.


Por que motivo um ser tem a necessidade de moldar o outro a sua semelhança e ideologia?
É angustiante presenciar como a sociedade humana evolui e afunda no abismo do egocentrismo.
Quando nos desprenderemos da ganância pela dominação de corpos e mentes?
E estaremos livres para absorver o mundo em conhecimento purista, não corrompidos por ideologias que traduzem a intensa procura pelo afrodisíaco poder?
Como espécie seremos o legado da mediocridade?

A sociedade humana é extenuante, devoradora, múltipla, fascinante e decepcionante.

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