segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Vermelhos


Vermelho Ocre

Uma das formas mais antigas de vermelho vem de argilas como vermelho-ocre rica no mineral hematita.
Evidências arqueológicas apontam que há 15 mil anos as pessoas já moíam essa argila para pintar seus corpos.


Bisão - caverna de Altamira, Espanha.

Vermelho, branco e preto eram as cores usadas pelos artistas da Pré-História porque podiam ser obtidas da natureza.
As inscrições e pinturas das cavernas de Altamira (Espanha), datadas em 16 e 15 mil anos atrás, são alguns dos exemplos mais antigos de uso do ocre na arte
Na China houve grande destaque para o vermelho com exemplos de cerâmica preta e branca datando desde 7 mil anos atrás.
Traços de vermelho ocre foram encontrados na decoração da tumba do faraó Tutankhamon.
No Egito Antigo, o vermelho ocre era usado como cosmético e as mulheres pintavam seus lábios e bochechas com essa cor. Durante as festividades, os corpos inteiros eram pintados de vermelho.
Na cultura egípcia era associado à vida, à saúda e à vitória e muito usado na decoração de interiores.

Cinábrio ou Cinnabar


Pompeia-Vila Mistério-afresco-Século VIII

Muito tóxico, obtido do mineral cinábrio, era usado no Egito antigo. Romanos usavam o pigmento na decoração das casas como exibem alguns murais (afrescos) resgatados de Pompeia. Quase todo o cinábrio usado na Roma Antiga vinha de minas na região de Almadén, na Espanha. A extração era feita pelos escravos, capturados nas guerras e forçados a trabalhar em um ambiente altamente tóxico.

Carmim


A Noiva Judia - Rembrandt

A cor carmim e suas derivações!
Algumas cores gravitam ao redor deste matiz.
Um dos vermelhos mais intenso da paleta dos artistas do século XVIII e XIX, carmim,foi muito usado por Turner.


Coronation mantle of Roger II of Sicily (1133)

Vermelho forte, que se inclina para o roxo, é feito de corpos secos de Kermes femininos. Esses insetos cochonilhas, que se alimentam da seiva de carvalhos perenes, eram colhidos comercialmente para produzir tintas.
Carmesim feito de Kermes caiu em desuso com a introdução da laca carmim - produzida pela cochonilha. Em parte, isso se devia ao fato de que eram necessárias doze vezes a quantidade de kermes para atingir a intensidade da cor da cochonilha.
Carmesim feito de Kermes também é chamado de carmim natural para evitar confundi-lo com laca carmim.
Chegou à Europa com o retorno dos navios espanhóis que conquistavam a América. No Novo Mundo, os espanhois se depararam com um vermelho muito intenso e brilhante usado pelos astecas e logo descobriram o segredo: cochonilhas, insetos pequenos que vivem em cactos e que, assim, como os kermes, produzem uma tinta quando esmagados.


kermes

As cochonilhas ofereciam uma tintura vermelha profunda, intensa e vibrante, que dominou a moda e as artes na Espanha, Portugal e Holanda durante os séculos XVI e XVII.
Rembrand, Vermeer e Velásquez são alguns dos pintores que mais usaram esse pigmento que, aliás, precisava de cuidados redobrados ao ser utilizado: este carmim muda de cor quando exposto à luz.
Cochonilhas eram um dos principais produtos importados pela Europa no século 16, atrás apenas do ouro e da prata. Com a ascensão dos comerciantes no Renascimento, vários reinos proibiram que não-nobres utilizassem o vermelho carmim, que permaneceu como uma cor ligada à aristocracia.
Carmim alizarin, o primeiro corante vermelho sintético, surgiu após.


Viagens - BCas

Alizarin

Dos vermelhos tradicionais é o que mais se aproxima do magenta. É vermelho escuro, profundo e aveludado.
Carmim de garanza é um clássico na paleta de pintor. Dele se obtém lindos violetas e alaranjados. Quando misturado com branco origina belos rosados.
O "vermelho turco" ou alizarin tem sido usado ao longo da história como um corante vermelho proeminente, principalmente para tingir tecidos têxteis.
Evidências indicam que o pigmento da planta madder, muito estável, era usado como tintura de tecido pelos povos gregos, romanos e egípcios 1500A.C.


Alizarin crimson e Cadmium orange by Walter Foster

O vermelho obtido das raízes de garanza é um corante, não um pigmento, porém os egípcios conseguiram fixá-lo em pó inerte como giz ou gipsita para fazer o pigmento conhecido como "laca".
É uma cor transparente assim como os vermelhos luminosos de quinacridona
Em 1869, tornou-se o primeiro corante natural a ser produzido sinteticamente. William Henry Perkin descobriu uma maneira de sintetizar o pigmento alizarina, que ficou conhecido como a cor alizarina carmesim.
É resistente a luz.
Atualmente fabricantes de tinta tendem a substituí-lo pelo magenta-de quinacridona.

Rose Madder


Mermaid in madder rose

Rosa encanta. Cor quente que flutua entre o magenta e o vermelho, no ocidente significa feminilidade e amor. Reflete paz,  e sedução quando é intensa. Representa confiança em algumas culturas orientais.


Rose Madder by W&N

Enquanto Alizarina é praticamente um  magenta intenso, Rose madder é variedade mais  suave embora profunda; ambas formadas pelo pigmento proveniente das raízes da planta Rubia tinctorum.
Este pigmento foi historicamente utilizado na fabricação do magenta intenso conhecido como   alizarina carmesin, industrialmente sintetizado desde 1868.
No século XIII a ruiva-dos-tintureiros, vermelho turco,  garanza ou granza era cultivada em toda Europa, principalmente na Holanda.


Rubia tinctorum:Köhler–s Medizinal-Pflanzen

Contudo seu alto custo exigiu pesquisas, e em 1804 o pintor George Field conseguiu elaborar um processo extrativo mais eficiente. Posteriormente seus estudos foram vendidos para William Winsor um dos fundadores de Winsor & Newton, formando as receitas básicas das suas tintas.

Vermillion


Afonso I d’Este, Duque de Ferrara - Ticiano - 1530 e 1534.

Chineses foram os primeiros a produzir o vermillion ou vermelhão sintético, provavelmente por volta do século IV antes de Cristo. O pigmento, trazido para a Europa, por alquimistas árabes e também pelas Cruzadas, foi incrivelmente popular com os pintores renascentistas.
Ticiano, pintor italiano, é conhecido pelo uso incrível que fazia do vermelho em seus quadros. Originalmente, o vermelhão é um vermelho-alaranjado, mas que escurece com o tempo, tornando-se um vermelho bem escuro tendendo para o púrpura ou de marrom.
Na China, o vermillion era conhecido como “vermelho chinês”, símbolo da vida e da riqueza e usado para pintar os templos e carruagens imperiais.
Continuou como o pigmento vermelho mais popular até o século XX, quando sua ação tóxica e preço acabaram forçando os artistas a mudarem para o vermelho de cádmio. Na Idade Média, o vermillion custava tanto quanto uma folha de ouro. Era usado apenas nas partes mais importantes dos manuscritos iluminados, enquanto que as grandes áreas eram preenchidas com vermelhos à base de chumbo, mais baratos, e ainda mais tóxicos.

Zarcão ou Mínio


O Café à Noite - Van Gogh, 1888

Zarcão ou mínio, pigmento vermelho altamente tóxico descoberto e manufaturado pelos chineses, é considerado um dos primeiros pigmentos sintéticos da história, obtido através do cozimento de outra tintura ainda mais venenosa, o branco de chumbo.
Este pigmento branco  era usado como maquiagem na Roma Antiga e no século XVIII.
Quanto mais tempo fosse cozido, mais se aproximava do vermelho-alaranjada. Devido ao custo menor que o cinábrio, era muito usado nos manuscritos medievais e também na arte persa e indiana.
Tende a clarear com o tempo de exposição à luz, fazendo com que as pinturas pareçam desbotadas. Van Gogh usava muito o zarcão em suas pinturas. A palavra “miniatura” é derivada de mínio. Devido ao uso intenso desse pigmento, os monges que trabalhavam nos manuscritos medievais também eram conhecidos como miniators, “aqueles que usam mínio”.

Vermelho de Cádmio


Interior With Black Fern - Matisse, 1948


O vermelho de cádmio começou a ser comercializado em 1910 tornando-se um sucesso no século XX.
Imitando a cor do vermillion, mas com uma qualidade muito melhor e sem alteração quando exposto à luz, a nova cor conquistou pintores como Henri Matisse.
A toxicidade desse pigmento é mínima porém a União Europeia quase baniu essa tinta em 2014, até que estudos provassem que não havia riscos de contaminação das águas ou envenenamentos por causa da tinta
Matisse tentou, sem sucesso, convencer Renoir a usar vermelho cádmio. Embora fossem amigos íntimos, Renoir rapidamente voltou ao seu pigmento anterior depois de tentar.

Leitura recomendada: “Red: The History of a Color”, Michel Pastoureau



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