sexta-feira, 8 de maio de 2020

Sobre Fotografia - Susan Sontag


Autora Susan Sontag

Escritora e ativista discorreu sobre vários assuntos como literatura, cinema, pornografia, conflitos políticos envolvendo países do Leste Europeu, e Oriente;  que se tornaram plataforma para sua visão de mundo.
A respeito do livro "Sobre fotografia", lançado em 1977, declarou que era uma forma de relatar suas ideias sobre modernidade e maneiras contemporâneas de pensar e sentir.
O ensaio tornou-se  um clássico sobre fotografia  e revela o engajamento da autora com outras causas, que extrapolam a lente fotográfica.
Na teoria de Sontag compreender os motivos que nos levam a fotografar e como desenvolvemos a arte revela posicionamentos e concepções do mundo.
O enfoque principal nos seus escrito é  a estética e a moral.
Em relação a estética Sontag repudiava a ideia de beleza convencional nivelando o belo e o feio, o importante e o banal procurando a estética do inusitado em situações e objetos.
Argumentava que as obras de artes, conservadoras e pretensiosas deram espaço a novo conceito de beleza. Que "interessante" passou a ser o novo belo, e que a fotografia foi a primeira arte a provocar este reconhecimento.
Fotografia seria a arte capaz de reconhecer o belo no trivial.
Sob o olhar do fotógrafo esta beleza estaria associada ao "sentido da pura amplitude e plenitude da realidade inanimada mas também pulsante que rodeia todos nós".
Assim como afirmava que "a câmera empurra para adiante as fronteiras do real" demonstrava um certo fascínio pela fotografia.
Por outro lado teorizava que fotografia é uma maneira de colecionar fragmentos em uma espécie de acumulação sem fim.
Em muitos escritos Susan Sontag procurou redimir a pornografia, considerando que 'Trangredir não é Uma Ameaça", título de artigo, e que imaginação pornográfica pode ser traduzida como arte, tema válido para a literatura e fotografia. Tentava dissociar a pornografia  do conceito de fenômenos sociológico ou psicológico como  motivo de preocupação social.
Entendia que a religião estava em derrocada social e lamentava  que a sociedade da época não oferecesse  nenhuma outra forma de transcender a individualidade.
Depois de imersão em vários estudos literários sobre pornografia, seus rituais e degradação, emergiu  com o conceito de arte que tem menos a ver com a beleza e mais com a consciência.
Como escritora, cineasta e ativista Susan Sontag dedicou grande espaço da sua vida profissional  às guerras e conflitos políticos, revelando seu interesse pelas questões relativas a ruína, destruição e morte.
Ao visitar o Vietnam, após um convite oficial, se depara com a cultura ocidental que lhe permite visualizar uma nova moral, e várias gradações de valores éticos, diferente dos experimentados na sociedade ocidental. Citava o contraste entre o sentimento de coletividade  vietnamita com o individualismo ocidental que permitia ao povo aceitar as exigências morais comunistas.
Apesar disto estava ciente das fraquezas locais e das atrocidades cometidas pelo modelo de governo.
Movida pelo interesse sobre guerras visitou a região de conflitos da Bósnia onde dirigiu a montagem de uma peça.
O sentido da moral que desenvolveu nestas experiências de vida está presente em grande parte da sua obra e aflora nos seus escritos sobre fotografia.
O livro da década de 70 versava mais sobre a estética fotográfica enquanto as obras posteriores foram dominadas pelas questões sobre moralidade de forma muito peculiar.
Em entrevista para Rolling Stone afirmou : " “Eu acho que devemos permitir não apenas estados de consciência e pessoas marginais mas também o incomum e o depravado. Sou a favor dos depravados.” (“I think we have to allow not only for marginal people and states of consciousness but also for the unusual or the deviant. I’m all for deviants.” (COTT, 2013, p. 31).
Sua compulsão pelas regiões de conflitos, o desassossego e atração por aventuras datava de longa data, tendo relatado em "Sobre Fotografia" o impacto causado pela visão de fotos documentando os horrores nos campos de concentração.nazistas.
Sua relação com a fotografia era ambígua. Revelava o apelo moral para reagir frente a situações por ela consideradas injustas Entretanto também refletia  o envolvimento passional  provocado pela relação amorosa com a fotógrafa Annie Leibovitz, e a possibilidade de conexão com o mundo concreto  e luxuoso durante momentos diversos da sua vida.
Um ano antes da sua morte publicou  Regarding The Pain of Others, também referente a fotografia , de conflitos, representações de guerra em abordagem histórica desde os desenho até os mecanismos mais modernos. Concluiu que a narrativa é mais eficaz que a fotografia , relato parcial dos acontecimentos.
Apesar de reconhecer que fotografia é evidência de algo que aconteceu discorreu sobre seu  incomodo com o fato deste registro ter se tornado um documento histórico manipulado nos bastidores políticos.
Nesta fase da vida via a fotografia como moeda política.
Também registrou novamente sua concepção de que fotografia  tem um caráter fragmentário. Entretanto afirmava  que se a fotografia pode levar a inúmero níveis de enganos também pode levar a novas descobertas: - “O que é liberador, assim nos dizem [as fotografias], é perceber cada vez mais” (SONTAG, 2008, p. 138.
 Sua relação com Anne Leibovitz, a famosa fotógrafa das celebridades estreitou os laços com o universo da fotografia.
Apoiada pessoal e financeiramente por Leibovitz pode se dedicar mais aos escritos.
A recíproca deste apoio se deu no incentivo para o livro Women, onde se nota claramente a influência de Sontag sobre Leibovtz. A coleção de fotos  representa mulheres nem sempre belas, embora permaneça o glamour tão apreciado pelo público consumista.
Fotografia foi para Suasn Sontag um instrumento para expressar ideias. Estas, que estavam atrás da superficialidade das imagens, eram seu foco de interesse, embora muitos dos seus livros não tivessem nenhum registro fotográfico.
Em "Sobre Fotografia " ela discorre sobre o sentimentalismo da arte, o limite do conhecimento fotográfico,  que mesmo despertando interesses e consciência não pode ser ético e político.


Sobre Fotografia - Resenha.

Na Caverna de Platão - Capítulo I

- "Colecionar fotos é colecionar o mundo"
- "As fotos são, de fato, experiência capturada, e a câmera é o braço ideal da consciência, em sua disposição aquisitiva. Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada."
Sontag argumenta que literatura e artes plásticas são interpretativas enquanto fotografias não são impressões do mundo, mas pedaços dele que cada um pode ter. Fragmentos.
Entretanto aqui não menciona que o olhar por trás da lente é extremamente interpretativo e várias pessoas fotografando o mesmo campo de visão podem trazer resultados diferentes e inesperados. Neste caso o mesmo mundo aparece de várias formas. Interpretado.
- "Fotos fornecem um testemunho. Numa das versões da sua utilidade, o registro da câmera incrimina."
Estados Unidos Visto em Fotos, de um Ângulo Sombrio. Reconhecidos profissionais tentaram reproduzir em suas fotos  algo que existe, ou real.
Considera que a semelhança de outras artes fotografia também sucumbe ao gosto do público e consciência.
Usando um trabalho desenvolvido por vários fotógrafos sobre o mesmo tema concluiu que ao manipular as fotos, cortando e editando, o profissional faz da foto um meio que transita entre a objetividade e a interpretação. Assim diz que esta é a agressão da fotografia.
Ao comparar fotografia e pintura julga que a primeira é muito  mais agressiva que nas imagens pintadas.
- "Desde o seu início, a fotografia implicava a captura do maior número possível de temas. A pintura jamais teve um objetivo tão imperioso. A subsequente industrialização da tecnologia da câmera apenas cumpriu uma promessa inerente à fotografia, desde o seu início: democratizar todas as experiências ao traduzi-las em imagens"
Em relação as viagens afirma que fotos funcionam como provas de que a viagem houve e troféus de exibição.
Referindo-se às famílias, cujo padrão tradicional  julgava claustrofóbico,  as fotos serviriam para compensar ausências registrando um amplo contexto familia
- "Viajar se torna uma estratégia de acumular fotos"
Para Sontag, “um modo de atestar a experiência, tirar fotos é também uma forma de recusá-la – ao limitar a experiência em uma imagem um souvenir” 
Assim a foto é uma lembrança capaz de materializar um momento, mas se transformou numa doença crônica da modernidade. Hoje existe um vício em fotos. Um consumismo estético.
- "Tirar fotos estabeleceu uma relação voyeurística crônica com o mundo, que nivela osignificado de todos os acontecimentos.Uma foto não é apenas o resultado de um encontro entre um evento e um fotógrafo; tirarfotos é um evento em si mesmo, e dotado dos direitos mais categóricos — interferir, invadirou ignorar, não importa o que estiver acontecendo. Nosso próprio senso de situação articula-se, agora, pelas intervenções da câmera."
Quando relata que o fotógrafo faz opção entre interferir numa cena ou acontecimento e fotografar optando pela fotografia afirma que:
- "Fotografar é, em essência, um ato de não intervenção"
Outro tema abordado foi a banalização das atividades humanas através da perpetuação em fotos. Através do tempo ee da exibição elas perdem sua carga emocional . também que conceitos éticos não podem ser atribuídos através da fotografia.

Textos em construção...

Estados Unidos Visto em Fotos , de um Ângulo Sombrio - Capítulo 2.

Objetos de Melancolia - Capítulo 3.

O Heroísmo da Visão - Capítulo 4

Evangelhos Fotográficos - Capítulo 5

O Mundo Imagem - Capítulo 6

Breve Antologia das Citações - Capítulo 7

Citações

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- Desejei reter toda a beleza que surgia à minha frente, e por fim o desejo foi satisfeito.
Julia Margaret Cameron


Elisabeth Casagrande

- Nossa fotografia é um registro de nossa vida, para qualquer pessoa que veja, de fato. Podemos ver e ser afetados pelas maneiras de outras pessoas, podemos até usá-las para encontrar nossa própria maneira mas no final sempre teremos de nos libertar delas. É isso o que Nietzsche queria dizer quando declarou: “Acabei de ler Schopenhauer, agora tenho de me livrar dele”. Ele sabia como as maneiras dos outros podem ser insidiosas, sobretudo aquelas que têm a eficácia da experiência profunda, se deixarmos que elas se interponham entre nós e a nossa visão.
Paul Stran


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- Se eu pudesse contar a história em palavras, não precisaria carregar uma câmera.
Lewis Hine


Elisabeth Casagrande

- A maioria de minhas fotos é compassiva, bondosa e pessoal. Elas tendem a deixar o espectador ver por si mesmo. Tendem a não fazer pregações. E tendem a não fazer pose de arte.
Bruce Davidson


Elisabeth Casagrande

- Se eu fosse apenas curiosa, seria muito difícil dizer a alguém “quero ir à sua casa, estimular você a falar e ouvir você me contar a história de sua vida”. As pessoas me responderiam: “Você está maluca”. Além do mais,ficariam muito precavidas. Mas a câmera é uma espécie de licença. Muita gente quer que prestemos a elas muita atenção e esse é um tipo razoável de atenção para se prestar.
Diane Arbu

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