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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Velhice e Memórias.




 VELHICE

Envelhecendo, encarquilhando, assombrando as imagens da juventude.
Dei-me conta do significado das palavras e entendi o espanto poético de Mário Quintana.
Vi um reflexo no espelho.
Não fiel, límpido, e cristalino, mas  superfície embaçada numa vitrine.
Entre contornos de ícones fashionistas deparei com uma estranha a me encarar, ligeiramente surpresa, como se estivesse tentando entrever uma velha amiga.
Séria, pálida, mais robusta que o ideal, cabelos que não mais sacodem ao vento. 
Repentinos vincos a marcar seus contornos, como traços trêmulos dos aprendizes de arte.
A força da colisão se fez sentir ao atingir os ditos espelhos d'alma.
Manso cansaço de jornada extenuante estava no olhar, e mesmo na repentina quietude do reconhecimento não houve grande espanto.
Como se já o esperasse, em conformismo com o inevitável.
Uma breve agitação nos recantos  da alma, um grito de rebeldia, uma questão.
É assim o envelhecer?
Pacata aceitação, aguardando a decadência do corpo, o vergar do espírito?
Voltar os olhos saudosos para o ontem, pois o amanhã é tão previsível que perdeu parte do encantamento.
Perder o caminho dos sonhos?
O que farei quando não ousar mais sonhar?
Procurarei a resposta amanhã, hoje quero lamber as feridas, pelo silêncio dos cantos.

Elisabeth Casagrande, 2017


MEMÓRIAS

Afirmam que é uma característica de velhice. Talvez.
Memórias são arquivos magníficos, que necessitam acesso, para não travar o pensar.
Há pouco reabri os 16, e motivos que me levaram a escolher ou rejeitar  inúmeros rumos pretendidos.
Tantos motivos errados para nortear decisões importantes!
Faltou um gole de ousadia, num copo muito cheio de senso de responsabilidade. 
Priorizei tantas situações e fatos que acabei no final da fila.
Como disse um personagem da pantomima televisiva : - "Me perdi de mim".
Não totalmente, mas em parte.
E todos estes desacertos de outra era provocaram a reflexão sobre tolerância no agora.
Adolescentes são assim...emocionais, conflitantes, impulsivos e algumas vezes inconsequentes.
Olhar para ontem fez perceber mais uma obviedade relegada ao fundo:  o mundo gira sempre igual .
As histórias se repetem e os erros são aprendizados necessários, de importância visceral.
Deixemos errar.

Elisabeth Casagrande , 2020

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