Vigotski e a Inclusão
Normalista, licenciada em Biologia, professora aposentada da PMC e irmã de adulta com "Necessidades Especiais", entretanto nunca ouvira falar em Vigotski. Durante minha formação os autores eram outros.
Mas pensador a parte tenho uma ótica bem prática sobre o assunto.
Primeiramente o leque de crianças ou adultos, cronológicos, com deficiências (características especiais), que requerem atenção especiais é vastíssimo. Concordo que "NEE tem o caráter relativo e contextual".
Alguns podem ser incluídos num grupo heterogêneo desde que os professores estejam muitíssimo preparados. E estamos a léguas disto.
Talvez possamos considerar alguns distúrbios comportamento, de linguagem, deficiências auditivas, ou visuais, ou ainda síndromes (Down e algumas outras) nesta inclusão . Condicionadas a excelente estrutura na escola. Amparo de pedagogos e psicólogos tanto para alunos como professores e quiçá familiares.
Na minha prática de ensino, em escola pública, o que presenciei foi muito bulling, atitudes inadequadas, comprometimento do avanço escolar e isto sem receber problemas graves.Apenas leves dissonâncias.
Nunca colocaria minha irmã numa escola pública ou particular, de estrutura padrão, a título de inclusão.
Hoje ela tem 64 anos e ainda se vê no espelho como a menina contida na sua cabeça. Frequenta vários grupos de convivência, comigo, geralmente de artes, e se adapta muito bem. É uma "criança-velha" com pós graduação na infância. Sempre acompanhada e discretamente monitorada.
Nestes ambientes recebo ajuda de adultos que orientam a atitude dos mais jovens, pois ela naturalmente se coloca ao lado das crianças e adolescentes.
Repudia totalmente a ideia de ser velha.
Frequentou "escola de tontos" até os 18 anos e foi um período feliz, de muito desenvolvimento, que não seria possível num ambiente escolar padrão, mesmo nas escolas particulares mais caras.
Percebo uma utopia na atual pretensão de "inclusão".
Existem espaços para esta convivência. Arte com certeza. porém não no sistema educacional regular.
A expressão artística significa inclusão para minha irmã com NEE (Necessidades Educativas Especiais), pois ela se enquadra como uma igual entre as "artistas".
Não percebe a diferença de raciocínio, de memória, de percepção das formas e cores, porque existe na arte uma aceitação das diferentes expressões. Sem julgamentos rígidos. Na arte podemos quase tudo.
Porém nas outras áreas do aprendizado ela necessita de outro olhar, de muita atenção e métodos diversificados. Muito especializados. Não é possível se estiver ao lado de alunos com aptidões consideradas normais.
Ela e tantos outros. É cruel submetê-los. Eu sei. Vi muitos como ela. Convivi com esta mágoa, esta percepção do ser diferente, das diferenças, de ser inferior, sem entender o motivo. Sem compreender os rótulos.
Minha irmã chora quando ouve alusões a "retardados". Culpa de insensíveis adultos do passado que não conseguiam perceber o quanto ela ouvia e entendia.
As vezes tenho que explicar o que é "adulto especial", então conto a história do nascimento. que faltou ar, que algumas partes dentro da cabeça ficaram sem ar, que ela não tem a mesma memória dos demais. E por este motivo não foi pra mesma escola, não sabe ler, não trabalha como eu...que NÂO é culpa dela. Simplesmente aconteceu. Foi falta de sorte...
Ela entende, se conforma até a próxima crise. É difícil.
Todos com necessidades especiais são assim. Quebrados por dentro pela percepção da diferença e de quanto são diferentes. Da impotência para se igualar. Esta inclusão tão almejada ( e forçada) atualmente não pode ocorrer da forma que se pretende.
Mas existem saídas.
Conheço uma companhia de dança chamado Guerreiros. Iniciado por uma fisioterapeuta, e destinada a pessoas que sofreram algum tipo de lesão neurológica. Não se importa com a inclusão formal. Apenas inclui de uma forma bonita.
A teia se forma entre os dançarinos, professores, fisioterapeutas, professores de educação física e familiares. Voluntários da inclusão. Operam um milagre que nos leva as lágrimas quando assistimos um espetáculo.
É um grupo especial, para quem é especial. Os incluídos são os "normais".
Esta é a verdadeira inclusão no aprendizado.
Vigotski...sinto mas eu discordo quando você afirma "que a criança deficiente não sente diretamente sua deficiência, percebe as dificuldades que derivam dela e, em consequência sofre o rebaixamento de posição social".
A minha "criança sente. Sente exatamente quais dificuldades tem. Percebe até onde não consegue ir. Tem consciência das suas limitações. E também das dificuldades que enfrenta em decorrência de. Também do desajuste. E sofre, se revolta e se compara.
Consigo perceber o valor da intenção quando diz que "interações sociais entre grupos heterogêneos são condições fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e da linguagem", mas não é assim que acontece.
Em algumas situações, esparsas, anômalas é possível. Não como regra geral.
NEE são especiais porque necessitam de ritmo, métodos, apoios e visões diferentes e isto só uma escola especializada proporciona.
Inclusão vista desta maneira é utopia e não deveríamos desperdiçar dinheiro público e energia com esta linha de pensamento.
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